Nunca mais me vou esquecer "vais ser operada com urgência às 17h da tarde". Congelei! À duas noites que não dormia de dores, já tinha estado nas urgências na noite anterior mas não sabiam dizer do que era. Apanhei estagiários (nada contra mas, têm pouca paciência alguns) disseram que eram dores abdominais. Buscopan e casa. Passei a noite em branco a desesperar. Dia seguinte às 10h "Mãe por favor leva-me de novo às urgências". Felizmente, o médico que me acompanhava as dores e o desconforto, estava lá. Mas nem ele já percebia o que estava acontecer. Chamou um grande amigo dele cirurgião que me mandou fazer uma ecografia. E nesse momento as dores ficaram explicadas. Tinha uma hérnia prestes a rebentar, "vais ser operada dentro de horas... não te preocupes, é rápido, 1horinha e nada mais".
Caiu-me a ficha!
Não vou entrar em pormenores, das mil ideias e medos que me deram, do nervosismo ou mesmo pânico que senti! Fiz a anestesista rir a pedir uma "dose de cavalo", para não acordar na operação (sim agora dá para rir, até os médicos se riram). Eu só sei que entrei antes das 17 no bloco operatório. E de repente saio eram 21h.
Espera... 21h??! Não era só 1h?! Que se passou?
Toda anestesiada só via, os meus pais e avó com cara de choro, alguns amigos que lá estavam, pálidos sem reação e eu sem saber de nada. Chego ao quarto e sinto-me "entubada" mas por todos os cantos, nariz, barriga... inchada que nem uma grávida. Aiiiiiiiiiiiiii!!!!!! Então o médico veio com o discurso de cortar a faca "Daniela amanhã explico-te melhor o que se passou. Mas por alto a operação teve complicações e descobrimos mais coisas. Mais uns dias esta menina já não estava aqui entre nós". Fez-se um silêncio constrangedor no quarto. A minha avó com as lágrimas aos olhos, a minha mãe estática e o meu pai mete a mão na cara, e eu ali apática, drogada, mal disposta, inchada. Tanta coisa que nem sei descrever...
De 3 dias para ter alta, passaram a 9. A recuperação correu mal, foi lenta e dolorosa. O tubo que me entrava pelo nariz até ao estomago era um desconforto total, implorei para o turarem. Foram dias em que não dormia, vomitava, mudavam-me os cateteres até não haver veias para furar. Todas as manhãs quando me davam banho, eu ali toda entubada, sentia-me inútil. Chorei, senti-me sozinha, perdi imenso peso, entrei em desespero confesso.
Mas estou aqui, estou viva. Tenho uma chance para viver. Serei medicada para a vida toda, terei de evitar certas coisas e cuidar mais de mim. E então?! Estou aqui. Tive e tenho a minha familia a meu lado, e um amor que trata de mim incondicionalmente... nada mais peço. Sou grata!!!